"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

sábado, 26 de janeiro de 2013

Intervalo Doloroso

 

 

Intervalo doroloso

Tudo me cansa, mesmo o que me não cansa. A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.

 

Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios da pouca água.

 

Entre mim e a vida há um vidro ténue. Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar.

 

Raciocinar minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço? e quem é triste não pode esforçar-se.

Nem mesmo abdico dos gestos banais da vida de que eu tanto queria abdicar. Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me.

Quantas vezes me punge o não ser o manobrante daquele carro, o cocheiro daquele trem! qualquer banal Outro, cujo a vida, por não ser minha, deliciosamente me penetra de eu querê-la e se me penetra até de alheia!

Eu não teria horror à vida como a uma Coisa. A noção da vida como um Todo não me esmagaria os ombros do pensamento.

Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda-chuva contra um raio.

Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e actos.

 

Por mais que por mim me embranhe, todos os atalhos dos meus sonhos vão dar nas clareiras da angústia.

 

Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge. Então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a nevoa de que me cerco. E todas as arestas visiveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhece-las durezas. Todos os pesos conhecidos de objetos me pesam a alma dentro.

 

A minha vida é como se me batessem com ela.’

 

Fragmento do “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

calendário.

 

ainda não sei qual foi meu logro, e na verdade são tantas as opções que me fadiga só de pensar em decidir. Nesses dias que passam, apesar do sol tenho acordado em manhãs nubladas e apesar do calendário pregado à parede inexpressiva (assim como eu) tenho acordado sempre na mesma segunda-feira, mal dormida de um domingo tedioso, com derrota do seu time de coração e algum revés para apertar a alma.   Minha alma já não se espreme mais, não se anima mais, não reage. A minha alma embrulha meus pensamentos como presente, e me entrega sorrindo, num pacote vermelho e roxo e uma rosa branca sobre o papel de cetim, entre os laços entrega um cartão com todas as minhas falhas novamente e parte.

 

Na verdade hoje nem é sobre o que minha mente faz, é mais do que ela espera de resultado… Sem plantar, sem regar e sem colher ninguém faz da fome satisfação, ninguém colore um jardim sem dedicação;

 

‘não há maior sinal de insanidade do que continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.’

Albert Einstein

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

sequencia.

 

 

subconsciente subestimando o sacrilégio pessoal

perjúrios profanados para flagelo próprio

fazei da fala, flecha lançada

lembrai da letra e melodia

memorizai o morrer e nascer do dia

pensar duas vezes depois de falar

se calar duas vezes e nunca agir

se esquecer de parar de fingir

fugir para não se ferir

não se aproximar, não se apaixonar

não se banhar em aguas geladas

nem mergulhar em almas quentes demais

não se perder em meio aguas passadas

mas cuidar das lembranças, ainda que enterradas

 

com flores num túmulo isolado, vou revirando o sentimento revirado.

 

 

 

Esse final de semana eu ouvi Ana Carolina, numa saída inconsequente, no carro de outra pessoa e me peguei ouvindo novamente agora. Podem se passar quantos dias forem, a unica lembrança que as canções mais lentas me trarão é aquela da qual eu teimo em esquecer.

Hoje eu perdi pro sentimentalismo masoquista de um ex-apaixonado.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2013

 

 

sou melancólico, melodramático e infeliz;

 

Apesar de não haver um motivo real do choro, minhas lagrimas sempre carregam com elas a mais genuína desventura e isso se deve ao fato de minha natureza ser melancólica. Todos os neurônios do meu corpo querem me ver triste, cada fibra, cada impulso, cada vez em que o raio da manha me tira da minha zona de conforto, cada minuto vivido, tudo isso culmina para minha amargura, e pior, por viver em comunidade e entender que nunca se deve ser um atraso para ninguem, engulo a angústia e sorrio, sorrio mesmo que a cada sorriso nasça uma flor negra de pesar, e que seus espinhos abram clareiras no meu coração deserto. Algumas pessoas simplesmente não são feitas para serem felizes, não sei se nasci uma delas, ou me tornei com o tempo mas minha unica certeza é que não serei feliz, posso estar feliz um dia ou outro, mas responder sim ao questionamento mais intimo do ser humano nunca.

 

 

A verdade é que enquanto as pessoas passam a vida buscando a felicidade e nunca a encontram, eu espero o dia em que poderei ser infeliz sem que minha desesperança e desânimo poluam nenhum falso jardim de felicidade!