"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Poema em linha reta

 

 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

 

Fernando Pessoa…

segunda-feira, 16 de abril de 2012

falta

 

 

 

sabe qual o problema de se apaixonar?

é que vc conhece uma felicidade tão grande, que você passa o resto da vida buscando alguma coisa parecida sem os riscos de uma paixão e nunca encontra.

 

sabe qual é o problema de se apaixonar?

é que depois de se apaixonar, vc acaba sentindo saudades até de sofrer.

 

 

7 segundas feiras por semana.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

DESABAFO

 

as vezes eu sinto que eu to no lugar errado, não as vezes eu sinto que eu to no lugar certo e na maior parte das vezes eu não sei onde estou.

 

eu tenho olhado no espelho todos os dias e vendo um rosto triste , tenho carregado no rosto todos os erros que eu cometi, principalmente os que eu cometi sabendo que eram erros, todas as vezes que meu ego falou mais alto, todas as vezes que eu reclamei e me lamentei sem ter MOTIVO ALGUM.

 

não estou deprimido, eu sou meio depressivo, mas minha tristeza é diferente, não tem motivo, eu tenho uma vida perfeita, mas é como se minha presença deixasse a vida menos perfeita pra quem ta por perto.

as vezes isso passa, as vezes esse é o preço de passar tanto tempo pensando, querendo entender as coisas.

 

‘vida boa é não pensar em nada’ F.N