"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

E se eu voltasse a poesia?





E se eu voltasse a poesia?
O que faria, o que diria?
A chegada ou a travessia?
Tenho história em demasia

E se contasse dos amores
Dos maiores e dos menores
Dos reais e dos platônicos
Deixaria a todos atônitos

Posso ir pelos saberes
Das palavras que escutei
O que aprendi com os dizeres
Ser aquilo que me tornei

E necessário voltar ao começo
Pois bem, às vezes me esqueço
Que tudo aquilo que me tem apreço
No final, vira adereço

Meus amores desamaram
Pelos dedos escorreram
Dos meus carinhos se esqueceram
Minhas memórias apagaram

Volto ao muro dos lamentos
Sem razão, sem sentimentos
Para, só por um momento
Silenciar meu sofrimento

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Guardo na Carteira

 

 

“Existe sempre muito a ser falado em situações como essas. Assim como, na maior parte dos casos, nada precise ser dito.

A caminhada é parte do ser humano, estar em movimento, sentir o ar entrar nos pulmões e acerca disso, o medo do próximo passo vai ser sempre um fator a ser considerado antes de se tomar decisões. Entretanto precisamos de um lar, assim como todo navio precisa de um porto para se fazer útil em todo o seu potencial, se não, tem o mesmo valor que um isopor boiando por anos nos mares.

A minha filosofia se esvai no momento em que me torno refém, não daquilo que foi ou que será, mas daquilo que poderia ter sido. Tantos lugares, tantas pessoas, tantas palavras e tudo aquilo que não será, assim como minha banda, minhas aulas de artes marciais, minha iniciação cientifica, ou as mil corridas matinais pelos parques que foram postergadas e esquecidas com o giro do relógio ou das folhas no calendário.

Não quero parecer ingrato, sei do valor de todas as coisas e sei que tive muita sorte enquanto toda aquela chuva caía. Sei de todo o conforto e toda segurança que fui contemplado, sei que nem todos dão o devido valor, sei de mais mil coisas. Não sei de nada, enfim. “

Isso foi um rascunho inacabado, mais um dos mil textos que não consegui terminar. As vezes eu quero que esse site seja sobre poesia, sobre textos e sobre pensamentos mas, inevitavelmente, ele se torna sobre mim. Conheço poucos assuntos mais desinteressantes do que eu, ainda assim aqui estou.

Esse texto é, como diria Tati Bernardi, um grito de socorro por ter um peito transbordando. Tenho mil coisas pra falar, nenhuma nova. Não abri meu coração, de fato, pra ninguém, não acho que as pessoas saibam melhor do que eu a forma como eu devo viver então não fico pedindo opinião, tomo minhas decisões e abraços as consequências.

-Não conseguirei terminar este texto também, não tenho palavras pois não sei o que quero dizer. Na vida chega a ser mais fácil, ninguém repara se você escreve sua história com as palavras erradas.

 

 

PS. Muitas coisas mudaram. Minha carteira não, no bolso de moedas ainda existe um tesouro. O que era presente, hoje é memória.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Uma postagem

 

 

Olá, como vai?

Senti falta de escrever mas não senti o que iria escrever. Na verdade não tenho o que dizer. A vida rasteja por entre os dedos dos pés descalços e os assuntos seguem-na em marcha militar. Quantos Charlie Hebdo adormeceram no oriente médio sem saber se iriam acordar, quanto da história ficou entre os comerciais do Fantástico, quantos homem bomba não morreram tentando explodir o sistema aqui no Brasil com uma Glock na mão e sangue nos olhos, quantos deles ainda vão tentar?

Temos assuntos e manias, misturamos os dois com o olhar de quem já escolheu um lado e viramos guerrilheiros de causas que sabemos apenas a ponta do iceberg. Como guerreiros romanos, nos armamos dos argumentos deles e partimos pro confronto, sempre do lado do bem, sempre contra o mal.

Enquanto mergulharmos nos nossos próprios egos e esquecermos dos fatos que fundamentaram nossos dias, o passado voltará a nos assombrar nos impedindo de um futuro civil e pacífico.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Herói



E tudo parecia ele, o dia, o fogo queimando o carvão e até o sol resolveu aparecer para saudá-lo. Aquilo era o resumo do que ele é, a alegria, as pessoas, os sorrisos, o churrasco e a cerveja. Foi um aniversário simples, não teve bolo e nem discurso. Não tive tempo nem de comprar seu presente, e me senti mal por isso. Ele aparentemente não ligou muito, ele nunca liga, ele é o tipo de pessoa que tira do proprio prato só pra matar a vontade de um dos filhos.


Com ele aprendi a ser homem, a querer mais, a não desistir (as custas de muita bronca). Por causa dele vou ser engenheiro. Um dia pretendo ser metade do que ele é. Parabéns atrasado pai, te amo.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Minha





           E ela girava, linda, rodopiava e me circulava como se estivesse em órbita, quando quem se movia apenas em função dela era eu. Havia momentos em que eu pensava estar louco, ela ocupava o salão todo, ela possuía o lugar, pra onde eu olhava ela balançava, e o swing de seu cabelo perfumava todo o ambiente. As vezes me chamava para dançar, pegava na minha mão e me obrigava a me mover, sempre contra a minha vontade. Eu não queria dançar, dançar requer atenção, e eu só queria prestar atenção naquela menina, quantos segundos de sorriso eu perderia por pisar no seu pé, quantos olhares seriam lançados ao vento se eu tivesse me preocupando em arrastar meus pés desajeitados em harmonia com os seus, que são habilidosos e delicados. Não sei, não quis saber, fiquei ali olhando, com vontade de dizer para todos que aquela que iluminava o salão é minha.

           Mas que egoísmo o meu querer tudo aquilo só pra mim, acho que o mundo tem a mesma dependência que eu, o mundo precisa de você. Quem vai adoçar meu café amargo, quem vai colorir meu quarto, quem vai me dar afago e quem vai encher meu peito vago? Dia desses me perguntei o que faria com todo esse amor se um dia você fosse embora e descobri uma coisa interessante, te daria. Esse amor é seu, não existe amor se você não estiver, não existem flores sem sol, mas não existem tão-pouco sem chuva. Você é desde o dia de verão mais quente na beira da praia até a noite mais fria e chuvosa do inverno.




Enfim, quero que o mundo se dane. Você é minha!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Raios



Estive me perguntando esses dias, de onde vem o amor.

Ele vem dos planos, da incerteza, e de você.



Hoje a mensagem é que você irradia amor. O meu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Quem lava a louça?



          Estávamos conversando sobre quem lavaria a louça naquele futuro ideal e entre segundas e quartas ou terças e quintas o assunto morreu em risadas, era uma segunda feira a noite com algum brilho na lua e um clarão de alegria nos dois pares de olhos que se entre olhavam. Era uma calmaria, depois de velejarmos por mil tempestades, depois de enfrentarmos mil monstros e depois de nos perdermos mil vezes, tínhamos uma calmaria. Era um abraço, algo para comer e a vista do infinito, como se nossas vidas fossem infinitas e ignorássemos o fato de que, se realizarmos todos os nosso planos, morreremos com 200 anos. Planejamos 3, até 4 vidas juntos e nem percebemos.
         Mas todo carnaval tem sua quarta-feira.
         Dormimos ao som do cavaco e acordamos cantarolando, sol a pino e sem ao menos imaginar que a última tempestade estava por vir. Porque é assim, se você já está sob a chuva até guarda seus pertences e se prepara para nadar, se não... E ela veio, foi então que percebi que navegando ali só tinha eu, estava eu velejando por mares revoltos enquanto ela podia nadar, Eu era barco. Ela era mar.
         Agora não adiantaria mais nada, era eu preso como um pilar ao chão e ela mergulhando e saltando sobre a água como se tivesse asas. Aquele navio afundou comigo, ao léu dos esforços daquela menina, estava eu, no fundo do mar, abraço comigo mesmo e esperando por nada.
         Recusei sim a oferta dela me carregar, já tínhamos tentado, não tenho asas, voltarei sempre ao chão ou serei peso morto, qualquer das possibilidades me dá arrepios. Por mim, velejava numa lagoa, ou melhor, velejava no quintal de casa, em terra firme, em segurança. Tenho medo de altura, também não voaria longe. Ela voou, eu fiquei.


        No fim não decidimos quem lavaria a louça, mas acho que está implícito, os dois lavam, cada um a sua, cada um na sua.


No fim os dois perdem, risos.