"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A peça

 

 

 

O vento sonoro da sua respiração, ecoado entre afagos e carinhos e refletindo num poço de virtudes o que somos. Somos um. Somos vários. Em meios aos gritos e pragas de amor, segue tênue e quase subconsciente um pedido, implora-se por mais, por menos e por tudo. Imploro por ti.

Cada dia sem seus olhos é cego, cada dia sem seu calor é gélido, cada noite sem seu carinho é breu. Como se cada vida que rasteja pelos cantos da cidade estivesse a procura de ti, ou alguem que seja para eles o que você é para mim. O encaixe (im)perfeito, que range, emperra mas nunca quebra nem deixa de funcionar, aquele que mantêm as coisas em ordem, e os sentimentos ordenando.

Guardo, para você, numa mala preta de couro todos os ‘sim’ que um homem pode dizer sem perder a hombridade, guardo embaixo da cama todos os poréns que possam existir entre a gente, jogo aos sete mares as sete pontas da estrela que lhe entrego, jogo aos seus cuidados de presente, meu futuro e passado.

E no meu passado, os pertences perderam poder, praticamente privados de preciosismo, perecem de pesar em pequenos palacetes. Podendo parar, pensar e ponderar, porque persistimos nos poréns, porque passamos a passagem privados do proveito, privados da paixão…

Não entendo quem diz que não ama porque não quer, quem poderia negar mutar-se para o melhor de si, ainda levar a razão consigo no peito?