"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Partida e consequência.




Como ir embora se meu futuro está talhado na cabeceira da sua cama, meus pesares seguram as cartas que lhe enviei para que o vento ou o tempo não soprem para longe, meus infortúnios e minhas penas dormem dentro do seu travesseiro velando seu sono e garantindo os mais doces sonhos, assim como meu calor se esforça para te manter aquecida a noite, independente de quantos abraços isso custe. Me diz como pode você que bebeu das minhas lagrimas e comeu minha alma me pedir para partir? Depois de se fazer meu lar, de me amar sem ressalvas como pode me pedir pra deixa-la?

Digo que não, pode você não me querer mais aqui, pode você se enganar e partir mas seu coração ainda bate por mim, carregando meu sangue nas veias e me fazendo sentir seu amor, seu sorriso mesmo quando forçado ainda leva minhas piadas sem Graça, minhas imposturas e minhas desinteligências, nas suas mãos ainda existe o vão que meus dedos magros e desajeitadamente grandes deixaram e na sua mente, entre um sapato e uma notícia popular, meus apelos ainda ecoam longínquos em sintonia aos seus, que foram aprisionados nas grades que um dia guardou nosso amor.

Não,  não vou partir, te condeno a ser feliz comigo, te sentencio a ver todos os dias pela manha meus olhos brilhantes a se iluminar com seu reflexo, te castigo com todos os versos de amor que essa mão possa exprimir,  com todas as batidas que esse coração possa apanhar, todos os sorrisos, todos os beijos que a urgência dos meus lábios saciarem, todos os "não"s que me obrigarei a dizer e todos os "sim" que me forem permitidos. Te condeno ao meu amor.

Isto posto, te reservo o diteito de defesa, como a lei obriga, e informo que toda queixa será retirada mediante a devolução dos bens roubados, são estes, você inteira e minha metade de volta.