"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Minha





           E ela girava, linda, rodopiava e me circulava como se estivesse em órbita, quando quem se movia apenas em função dela era eu. Havia momentos em que eu pensava estar louco, ela ocupava o salão todo, ela possuía o lugar, pra onde eu olhava ela balançava, e o swing de seu cabelo perfumava todo o ambiente. As vezes me chamava para dançar, pegava na minha mão e me obrigava a me mover, sempre contra a minha vontade. Eu não queria dançar, dançar requer atenção, e eu só queria prestar atenção naquela menina, quantos segundos de sorriso eu perderia por pisar no seu pé, quantos olhares seriam lançados ao vento se eu tivesse me preocupando em arrastar meus pés desajeitados em harmonia com os seus, que são habilidosos e delicados. Não sei, não quis saber, fiquei ali olhando, com vontade de dizer para todos que aquela que iluminava o salão é minha.

           Mas que egoísmo o meu querer tudo aquilo só pra mim, acho que o mundo tem a mesma dependência que eu, o mundo precisa de você. Quem vai adoçar meu café amargo, quem vai colorir meu quarto, quem vai me dar afago e quem vai encher meu peito vago? Dia desses me perguntei o que faria com todo esse amor se um dia você fosse embora e descobri uma coisa interessante, te daria. Esse amor é seu, não existe amor se você não estiver, não existem flores sem sol, mas não existem tão-pouco sem chuva. Você é desde o dia de verão mais quente na beira da praia até a noite mais fria e chuvosa do inverno.




Enfim, quero que o mundo se dane. Você é minha!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Raios



Estive me perguntando esses dias, de onde vem o amor.

Ele vem dos planos, da incerteza, e de você.



Hoje a mensagem é que você irradia amor. O meu.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Quem lava a louça?



          Estávamos conversando sobre quem lavaria a louça naquele futuro ideal e entre segundas e quartas ou terças e quintas o assunto morreu em risadas, era uma segunda feira a noite com algum brilho na lua e um clarão de alegria nos dois pares de olhos que se entre olhavam. Era uma calmaria, depois de velejarmos por mil tempestades, depois de enfrentarmos mil monstros e depois de nos perdermos mil vezes, tínhamos uma calmaria. Era um abraço, algo para comer e a vista do infinito, como se nossas vidas fossem infinitas e ignorássemos o fato de que, se realizarmos todos os nosso planos, morreremos com 200 anos. Planejamos 3, até 4 vidas juntos e nem percebemos.
         Mas todo carnaval tem sua quarta-feira.
         Dormimos ao som do cavaco e acordamos cantarolando, sol a pino e sem ao menos imaginar que a última tempestade estava por vir. Porque é assim, se você já está sob a chuva até guarda seus pertences e se prepara para nadar, se não... E ela veio, foi então que percebi que navegando ali só tinha eu, estava eu velejando por mares revoltos enquanto ela podia nadar, Eu era barco. Ela era mar.
         Agora não adiantaria mais nada, era eu preso como um pilar ao chão e ela mergulhando e saltando sobre a água como se tivesse asas. Aquele navio afundou comigo, ao léu dos esforços daquela menina, estava eu, no fundo do mar, abraço comigo mesmo e esperando por nada.
         Recusei sim a oferta dela me carregar, já tínhamos tentado, não tenho asas, voltarei sempre ao chão ou serei peso morto, qualquer das possibilidades me dá arrepios. Por mim, velejava numa lagoa, ou melhor, velejava no quintal de casa, em terra firme, em segurança. Tenho medo de altura, também não voaria longe. Ela voou, eu fiquei.


        No fim não decidimos quem lavaria a louça, mas acho que está implícito, os dois lavam, cada um a sua, cada um na sua.


No fim os dois perdem, risos.