"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
(Campos, Álvaro de. Tabacaria. Portugal, 1928)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O sonhador

 

Era apenas um menino;

Cabeça nas nuvens, sempre que parava sonhava e voava e sempre chegava onde queria.

Ao pegar um violão na mão o menino sonhou em ser Rock star, imaginou toda galera gritando seu nome, seu primo ao seu lado tocando e pulando, sonhou com os amores e paixões, sonhou com intrigas e brigas na banda... Sonhou com todos os minuciosos detalhes, se apaixonou perdidamente pela mais bela menina, tudo isso com seus 15 anos, mas acordou e percebeu que seu sonho não o levara a lugar algum a não ser o gélido e solitário quintal de casa.

Tempo depois mudou de escola, e se imaginou como antes se sentia, porem não como o espelho jogava em sua face, imaginou a vida que todos sonhavam, mulheres, dinheiro tudo isso estudando pouco e trabalhando menos ainda onde, se ganhasse 40 reais por final de semana fazia fortuna, acordou novamente com os pés descalços no piso de sua lavanderia de frente ao varal que levara seus sonhos com a brisa da madrugada.

Este menino sonhava com tudo que via ao seu redor, se imaginava lutando, guerreando, no espaço, no campo, em casa qualquer lugar era sem duvidas um ótimo cenário para o garoto, e o enredo, dos mais variados, nada que sua vã mente possa imaginar sem sua ajuda, já se imaginou fora de sua cidade, estado, pais ou até planeta, porem seu amor era sempre um amor real, a menina que ele via todos os dias, a menina que dizia que o amava e que nem imaginava que alguns minutos antes estava no lugar mais amplo e surpreendente do mundo: a mente de um sonhador.

Quantas vezes o menino não saio de uma conversa profunda, ou guerra, até mesmo de um beijo com as palavras "filho, acorda chegamos."

Até o dia que alguém falou pra ele "você sonha a vida inteira e só acorda no fim.", foi então que decidiu não mais sonhar, não mais conhecer lugares adversos, não mais conhecer pessoas perfeitas, nem viver aventuras indescritíveis, porem como presumimos, não conseguiu, falhou, e descobriu ser dependente do sonho, descobriu que o sonho era a base para suas atitudes e que inevitavelmente ele sonharia para ser feliz.

Chegou em casa, tirou suas roupas e foi banhar-se, deixar a água cair e levar com ela tudo que de ruim ele carregava. E nessas condições resolver pensar em quem realmente era e concluiu que não era o herói dos sonhos, nem o galã, nem o forte, nem o brigão que iriam te fazer ser melhor, pois o que o engrandecia era o orgulho dos pais e isso com certeza ele tinha.

Descobriu quem ele realmente era.

Ele era um sonhador.

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